Não me acho incompetente porque não casei!
Ser solteira não me fez menor — mas ser mãe, ah sim... me fez muuuito maior.
Demorei um pouco para “afinar” esse espaço de fala e de troca, fiquei planejando muito mas agora vou deixar a bola rolar. Escrever sobre maternidade independente e tudo que envolve esse universo se tornou não só importante, mas necessário. E mais: inspirador para mim e para você. E por isso, quero que seja um lugar de troca de verdade.
Então, vamos direto ao ponto de hoje.
Você já sabe: Eu não casei. E mesmo assim, realizei o maior sonho da minha vida — a Maternidade.
Por muito tempo (e põe tempo nisso!), tentaram convencer a gente de que sucesso de verdade para uma mulher era o pacote completo: casamento, filhos, casa cheia, vida a dois com direito a jantar de domingo e aliança no dedo. A tal da família do comercial de Doriana. E a gente acreditou. Porque era só isso que a gente via, lia e ouvia.
Só que a vida nem sempre respeita esse roteiro. E comigo não foi diferente.
Eu queria ter encontrado um parceiro. Tentei. Me frustrei. Tentei de novo. Mais uma vez. Não rolou. O tempo foi passando — e não me esperou.
A minha ficha caiu por volta dos 38. Eu já não tinha mais como me dar ao luxo de esperar pelo “cara certo”. Matematicamente, era impossível achar + namorar+ noivar+ casar+ viver o casamento + planejar ter filhos + conseguir ter filhos com um parceiro. Pelos meus cálculos, essa trilha poderia demorar de 8 anos a 10 anos, no mínimo!
Meu relógio biológico ficava me cobrando, me cutucando para que eu tomasse alguma providência: ir pra direita, esquerda ou ficar parada. Bom, quem me conhece sabe que ficar parada nunca foi (e nunca será!) uma opção.
Então, a maternidade, que por anos eu tinha deixado para depois, começou a se mexer dentro de mim. A sirene soou alto. Não dava mais tempo de procurar um príncipe. Era hora de escolher a mim, a Bettina.
E aí, vem aquele pensamento que talvez você já tenha tido: Será que eu fiz tudo errado? Será que perdi o timing? Fiquei tão focada no trabalho que não dei bola pra minha vida pessoal? Será que tô sozinha porque tem algo de errado comigo?
Eu te entendo. E te digo: não, você não fez nada errado.
A gente foi ensinada a estudar, trabalhar, conquistar estabilidade — mas ninguém avisou que nossos óvulos têm prazo de validade. Que a fertilidade não espera a gente “ter certeza”. Que congelar óvulos era uma possibilidade. Eu não sabia nada disso.
Me vi questionando minhas escolhas: Será que fui egoísta por priorizar minha carreira? Será que deveria ter me “esforçado mais” pra casar? Todas as minhas amigas já estavam casando e tendo filhos, menos eu. Isso traz um peso invisível que dói na mulher que ainda está solteira depois dos 35.
Já ouvi de tudo: que eu sou exigente demais, que casei com o trabalho, que deixei a vida amorosa de lado para ganhar dinheiro. Tentaram me encaixar em um molde que nunca me serviu. E mesmo hoje, com tudo o que conquistei, ainda tem quem ache que fiz isso por “desespero” – (PS: sempre vai ter alguém que vai achar alguma coisa!)
Eu fiz tudo por desejo, por uma voz dentro de mim que falava comigo. E desejo a gente escuta. Não empacota, nem joga fora. A gente ouve, escuta com atenção. É a nossa intuição falando…
Mas quer saber? Eu não me acho incompleta, muito menos incompetente. E a terapia me ajudou muito a entender isso. Eu me fiz mãe. Sozinha, sim. Mas com amor, com planejamento, com coragem e também uma rede de apoio.
A verdade é: não ter casado não diminui em nada minha capacidade, minha competência, meu valor ou meu direito de ser mãe. Foi na ausência do modelo ideal que eu criei o meu. Uma história só minha. E aqui vai uma mensagem importante: “Solo sim, mas nunca solitária.”
A incompetência que pode estar te rotulando nada mais é do que uma fantasia coletiva construída sobre um modelo ultrapassado de sucesso feminino. Ele foi assim, mas não é mais.
É a voz do senso comum, que ainda associa valor à aliança no dedo, ao status de casada, à presença de um “homem ao lado”. Mas deixa eu te contar: competência mesmo é bancar uma escolha com consciência. É ouvir o desejo, enfrentar o medo e seguir em frente.
Ser mãe independente não é falha, é força. Não é ausência, é ação. E se ainda te chamam de incompetente por não ter casado... é porque não conhecem a potência que existe em ser você por inteiro.
Quando minha filha chegou ao mundo, eu olhei pra ela e pensei: “eu consegui.”
Ela foi crescendo — de bebê a criança, agora uma pré-adolescente cheia de personalidade. E toda vez que eu olho pra ela, eu penso: isso sim é um milagre.Feito de suor, de terapia, de escolhas difíceis e de um amor que transborda.
E toda vez que ela sorri, eu tenho certeza: não existe selo de competência maior do que realizar um sonho com verdade.
A foto acima foi tirada na maternidade em setembro de 2013.
Calma! Eu não tô dizendo que é fácil. Longe disso. A maternidade é um desafio real, diário e profundo — para todas nós. Com ou sem parceiro, ela exige da gente uma força que, muitas vezes, nem sabemos que temos.
É um campo de descobertas constantes. A cada fase, uma nova pergunta. A cada mudança, um novo ajuste. E num mundo com tanta informação, tantas vozes, tantas distrações… encontrar o nosso próprio jeito de “ser mãe” virou quase um ato de resistência- rsrs!
Mas é isso: de mulher pra mulher — a maternidade desafia e transforma todas nós. E o mais bonito é perceber que, mesmo em jornadas diferentes, a gente compartilha da mesma entrega, do mesmo amor, da mesma coragem de seguir.
E foi aí que tudo começou. Não como eu sonhei, mas como eu pude. Como era possível. Como era real.
A maternidade independente me mostrou que a vida nem sempre entrega o roteiro que desejamos… mas sempre nos dá a chance de escrever um capítulo do zero.
Com coragem. Com presença. Com amor de sobra.
Se esse tema mexeu com você, eu te convido a assistir um trecho do vídeo que gravei falando sobre este tema.
Tem um trecho do vídeo que gravei que é quase um desabafo — e também um convite à reflexão. Nele, eu olho pro lado e começo a perceber quantas mulheres incríveis estão por aí: liderando empresas, criando filhos sozinhas, sustentando uma casa, se cuidando, encarando decisões difíceis… e ainda assim carregando uma culpa silenciosa. Como se tivessem falhado só porque não casaram.
Quem sabe essa mensagem pode te trazer aquela dose de coragem que você tava precisando hoje...
👉 Assista aqui
Talvez ele diga em voz alta o que seu coração já tá sussurrando aí dentro.
Nos vemos na próxima edição!
Com carinho,
Bettina ❤️
PS: Esta newsletter é para mulheres, mães, médicos, psicólogos e todos os profissionais de saúde que fazem parte do universo da reprodução assistida. Envie o link para eles - vamos aumentar o volume da nossa voz!